" O homem vestido de preto, óculos escuros, joga paciência com o celular, faz o sinal da cruz bebendo um café que parece frio.
Do bolso de seu paletó sai um pequeno lagarto de óculos escuros como os dele.
O lagarto anda pela perna, sobe pelos braços, avança apoiando as patas gelatinosas nas orelhas avermelhadas do homem, que permanece quieto. Chegando ao topo da cabeça, o lagarto abre as asas e voa.
A criança que assiste a cena segura um robô de plástico na mão.
Imóvel, chama a mãe que, fazendo compras, não se importa com o que ela diz.
Outro lagarto sai do bolso e faz o mesmo trajeto. O homem continua imóvel, assim como a criança que o contempla.
Sabemos que o lagarto é apenas uma emoção e que, não cabendo em si, um dia desistirá de existir. Então, todos serão como o robô que o menino traz a mão e que, neste instante, ele joga ao chão sem ver nele mais nenhum interesse.
Pede à sua mãe um lagarto, mas ela não ouve o que ele diz."
Márcia Tiburi
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