Grandes Sertões Vereda. João Guimarães Rosa
quarta-feira, 3 de abril de 2024
Eu atravesso as coisas ―e no meio da travessia não vejo!
Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas ―e no meio da travessia não vejo! ―só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?
sábado, 20 de janeiro de 2024
O pavão
Eu considerei a glória de um pavão, ostentando o esplendor, de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros,e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
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Em: Ai de Ti Copacabana! Rubem Braga, Rio de Janeiro, Sabiá: 1969, 5ª edição
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