"Eu acho que nunca cheguei a dizer a ninguém, só mesmo à Romina, mas na minha cabeça eu sempre escondia este pensamento: as despedidas têm cheiro. E não é cheiro bom tipo cha-de-caxinde, ou as plantas a darem ares duma primeira respiração na frescura da manhã, entre silêncios e cachimbos molhados. Não. Despedida tem cheiro de amizade cinzenta. Nem sei bem o que isso é, nem quero saber. Não gosto mesmo de despedidas.(...)
O camarada professor Angel continuava a falar e, sem querer, dizia coisas que nos emocionavam muito. Nas despedidas acontece isso: a ternura toca a alegria, a alegria traz uma saudade quase triste, a saudade semeia lágrimas, e nós, as crianças, não sabemos arrumar essas coisas dentro do nosso coração."
Conto "um pingo de chuva". Os da minha rua. ondjaki.