sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O horror sórdido do que, a sós consigo


Faz as malas para Parte Nenhuma!
Embarca para a universalidade negativa de tudo
Com um grande embandeiramento de navios fingidos
Dos navios pequenos, multicolores, da infância!
Faz as malas para o Grande Abandono!
E não esqueças, entre as escovas e a tesoura,
A distância polícroma do que se não pode obter.

Faz as malas definitivamente!
Quem és tu aqui, onde existes gregário e inútil —
E quanto mais útil mais inútil —
E quanto mais verdadeiro mais falso —
Quem és tu aqui? quem és tu aqui? quem és tu aqui?
Embarca, sem malas mesmo, para ti mesmo diverso!
Que te é a terra habitada senão o que não é contigo?

2-5-1933

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Interrogação

Quando pararei de amar com intensidade
Quando deixarei de me prender aos seres e coisas?

Quando me livrarei de mim?
Do que sou, do que quero e do que penso?

Quando deixarei de prantear?

No dia em que deixar de ser eu,
No dia em que eu perder a consciencia
do mundo que idealizei . . .
Neste dia. . .

Eu sorrirei sem saber do sorriso.

Solano Trindade 1970

domingo, 9 de novembro de 2014

Brevidade da vida e a busca por experiências

"O mundo moderno oferece-nos um número infinito de possibilidades de vida e de vivências,  mas nossa vida é breve (...). O temor inconsciente de perder algo ou de ficar atrás acelera consideravelmente o 'curso' da nossa vida (...).
Contudo, somente quem vive devagar adquire alguma experiência da vida. Somente quem assimila o que experimenta fez uma experiência.  Somente quem come devagar pode comer com prazer.
Não é necessário correr atrás de todas as possibilidades.  Uma realidade vale mais do que mil possibilidades."

Jurgen Moltmann, In,  No fim, o início. 

Deve ainda haver vida dentro da vida

"Não é possível que isso tenha sido tudo,
esse pouco de domingo e de choro de criança,
tudo isso deve levar a algum lugar.
Não é possivel que isso tenha sido tudo, 
alguma coisa ainda deve acontecer:
não, deve ainda haver vida dentro da vida."
Wolf Biermann