quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A sociedade do Cansaço. o sujeito de desempenho.

"O sujeito de desempenho pós-moderno
não está submisso a ninguém. Propriamente
falando, não é mais sujeito, uma vez que esse
conceito se caracteriza pela submissão (subject to, sujet à, sujeito a). Ele se positiva, liberta-se para um projeto. A mudança de sujeito para projeto, porém, não suprime as coações. Em lugar da coação estranha, surge a auto coação, que se apresenta como liberdade. Essa evolução está estreitamente ligada com as relações de produção capitalistas. A partir de um certo nível de produção, a autoexploração é essencialmente mais eficiente, muito mais produtiva que a exploração estranha, visto que caminha de mãos dadas com o sentimento da
liberdade. A sociedade de desempenho é uma
sociedade de autoexploração.
O sujeito de desempenho explora a si mesmo, até consumir-se completamente (burnout). Ele desenvolve nesse processo uma agressividade, que não raro se agudiza e desemboca num suicídio. O projeto se mostra como um projetil, que o sujeito de desempenho direciona contra si mesmo."

Sociedade do Cansaço. Byung-Chul Han.

Quando

Quando não adiantar ouvir Let it be
Quando os galos estiverem mudos
Quando as noites forem de trabalho
Quando tiveres decorado o terceiro capítulo do livro de Jó
Conte comigo.
Não entendo de viagens ou de automóveis
Porém sei o que sentes.

Erinilton Gomes

A sociedade do Cansaço. O que é política?

A salvação do belo é igualmente o resgate do
político. Hoje parece que a política vive ainda
apenas de decretos de urgência. Já não é livre Isto quer dizer: Hoje já não há política. Se ela já não admite nenhuma alternativa, acaba se aproximando de uma ditadura, da ditadura do capital. Os políticos, que hoje se degradam em capangas do sistema, que no melhor dos casos são hábeis administradores da economia doméstica ou contadores, não são mais políti cos no sentido aristotélico.

Agir no sentido enfático é o que perfaz a
vida do político (bios politikos). Ele não está
submisso ao veredito da necessidade e da utilidade. (...)O político enquanto homem livre precisa agir, ele deve produzir belos atos, belas formas de vida, para além daquilo que se faz necessário e útil à vida. Deve, por exemplo, modificar a sociedade, no sentido de possibilitar um incremento de justiça, um aumento de felicidade. Agir político significa fazer com que surja algo totalmente novo, ou o nascimento de uma situação social nova. O argumento muito conhecido, segundo o qual não há outra alternativa, nada mais significa que o fim da política. 

A sociedade do Cansaço. BYUNG-CHUL HAN