quarta-feira, 3 de abril de 2024

Eu atravesso as coisas ―e no meio da travessia não vejo!

Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas ―e no meio da travessia não vejo! ―só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?


Grandes Sertões Vereda.  João Guimarães Rosa 

7 comentários:

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  2. "Trago dentro do meu coração,
    Como num cofre que não pode fechar de cheio,
    Todos os lugares onde estive,
    [...]
    E tudo isso , que é tanto, é pouco para o que eu quero"
    Álvaro de Campos

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    1. Será que sabemos o que queremos? Penso que só sentimos a falta, sem saber exatamente de quê...

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  4. Sentimos falta de nós mesmos e por isso temos a forte sensação de falta/vazio. Tratamos os outros com compreensão e gentileza, mas não fazemos isso por nós. Parece ter sentido?

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    1. Esse sentir falta de nós mesmos me parece a busca de uma idealização de nosso ser. A negação de que,talvez, a experiência humana se baseie na incompletude, de que não há nada que possamos fazer para acabar com a falta, a não ser buscar subterfúgios.

      Acredito que mesmo quando fazemos um esforço de compreensão do outro, estamos criando uma persona para esconder o fato de, lá no fundo, sabermos de nossa insignificância no mundo e assim construirmos um sentido no olhar do outro.

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    2. "A mente é qual um espelho, colhe pó enquanto reflete; são necessárias as suaves brisas da sabedoria da alma para limpar o pó de nossas ilusões. Procura, ó principiante, fundir tua mente e alma".
      Helena Blavatsky

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