domingo, 12 de janeiro de 2014

O Tempo



O despertador é um objeto abjeto.
Nele mora o Tempo. O Tempo não pode viver sem nós, para não parar.
E todas as manhãs nos chama freneticamente como um velho paralítico a tocar a campanhinha atroz.

Nós
é que vamos empurrando, dia a dia, sua cadeira de rodas.
Nós, os seus escravos.
Só os poetas
os amantes
os bêbados
podem fugir
por instantes
ao Velho...Mas que raiva dá no Velho
 quando encontra crianças a brincar de roda
e não há outro jeito senão desviar delas a sua cadeira de rodas!

Porque elas, simplesmente, o ignoram...

Mário Quintana. "Apontamentos de história sobrenatural"

Nenhum comentário:

Postar um comentário