terça-feira, 11 de agosto de 2015

A esperança como a maior das adversidades

Como observou com razão o filósofo contemporâneo André Comte-Sponville, o estoicismo aproxima-se aqui de um dos temas mais sutis das sabedorias do Oriente, em particular do budismo tibetano: a esperança é, contrariamente ao lugar-comum segundo o qual não se poderia “viver sem esperança”, a maior das adversidades. Porque ela é, por natureza, da ordem da falta, da tensão insaciada. Vivemos continuamente na dimensão do projeto, correndo atrás de objetivos postos num futuro mais ou menos distante e pensamos, ilusão suprema, que nossa felicidade depende da realização completa de fins medíocres ou grandiosos, pouco importa, que estabelecemos para nós mesmos. Comprar o último MP3, uma poderosa câmera fotográfica; ter um quarto mais bonito, uma motoneta mais moderna; seduzir, realizar um projeto, montar uma empresa de qualquer tipo que seja: cedemos sempre à miragem de uma felicidade adiada, de um paraíso ainda a ser construído, aqui ou no além.

Esquecemos que não há outra realidade além da que é vivida aqui e agora, e que essa estranha fuga para adiante nos faz com certeza falhar. Assim que o objetivo é alcançado, temos quase sempre a experiência dolorosa da indiferença, ou mesmo da decepção. Como crianças que se desinteressam do brinquedo no dia seguinte ao Natal, a posse de bens tão ardentemente desejados não nos torna nem melhores nem mais felizes do que antes. As dificuldades de viver e o trágico da condição humana não são modificados e, segundo a famosa expressão de Sêneca, “enquanto se espera viver, a vida passa”.

Luc Ferry no livro Aprendendo a Viver (Editora Objetiva)

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