Se conseguíssemos conservar a energia que prodigamos nessa sucessão de sonhos realizados noturnamente, a profundidade e a sutileza do espírito alcançariam proporções insuspeitáveis. O argumento de um pesadelo exige um desgaste nervoso mais extenuante que a construção teórica melhor articulada. Como, após o despertar, recomeçar a tarefa de alinhar ideias quando, na inconsciência, estávamos imersos em espetáculos grotescos e maravilhosos, e perambulávamos através das esferas sem o obstáculo da antipoética Causalidade? Durante horas fomos semelhantes a deuses ébrios e, subitamente, quando os olhos abertos suprimem o infinito noturno, temos que voltar a enfrentar, sob a mediocridade do dia, uma porção de problemas incolores, sem que nos ajude nenhum dos fantasmas da noite. A fantasmagoria gloriosa e nefasta terá sido então inútil; o sono nos esgotou em vão. Ao despertar, outro tipo de cansaço nos espera; mal tivemos tempo para esquecer o da tarde e eis-nos enfrentando o da aurora. Esforçamo-nos horas e horas na imobilidade horizontal sem que o cérebro aproveitasse absolutamente nada de sua absurda atividade. Um imbecil que não fosse vítima deste desperdício, que acumulasse todas as suas reservas sem dissipá-las em sonhos, poderia, possuidor de uma vigília ideal, desvendar todos os segredos metafísicos ou inciar-se nas mais inextricáveis dificuldades matemáticas.
Depois de cada noite estamos mais vazios: nossos mistérios, como nossas mágoas, fluíram em nossos sonhos. Assim, o labor do sono não só diminui a força de nosso pensamento, como também a de nossos segredos...
Emil Cioran, Breviário de Decomposição
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