quinta-feira, 14 de julho de 2016

Canção de mim mesmo

Tenho dito que a alma não é mais que o corpo,
E tenho dito que o corpo não é mais que a alma,
E nada, nem Deus, é maior para alguém do que seu próprio eu,
E quem andar duzentos metros sem solidariedade anda para o próprio funeral vestido em sua mortalha,
E eu ou tu sem um tostão no bolso podemos comprar o escol da terra,
E relancear com um olho ou mostrar um feijão em sua vagem confunde a erudição de todos os tempos,
E não há comércio ou emprego que o jovem siga que não se torne um herói,
E não há objeto tão macio que não faça um eixo para o universo sobre rodas,
E digo a qualquer homem ou mulher,
Que sua alma fique calma e composta ante um milhão de universos.

E digo à humanidade, Não sejas curiosa acerca de Deus,
Pois eu que sou curioso acerca de todos não estou curioso acerca de Deus,
(Nenhum arranjo de termos pode dizer o quanto estou em paz acerca de Deus e da morte.)

Ouço e vejo Deus em todo objeto, no entanto de modo algum entendo Deus,
Nem entendo quem pode haver mais maravilhoso que eu mesmo.

Por que eu devia desejar ver Deus mais que a este dia?
Vejo algo de Deus em cada hora das vinte e quatro, e em cada momento então,
Nos rostos de homens e mulheres vejo Deus, e em meu próprio rosto no vidro,
Encontro cartas de Deus caídas na rua, e cada uma está assinada com o nome de Deus,
E as deixo onde estão, pois seu que onde quer que eu for,
Outras pontualmente virão sempre e sempre.

Walt Whitman, Canção de mim mesmo.

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