(...) Sobretudo, não minta ao senhor mesmo. Aquele que mente a si mesmo e escuta a sua própria mentira vai ao ponto de não mais distinguir verdade, nem em si, nem em torno de si; perde pois o respeito de si e dos outros. Não respeitando ninguém, deixa de amar; e para se ocupar, e para se distrair, na ausência de amor, entrega-se às paixões e aos gozos grosseiros; chega até a bestialidade em seus vícios, e tudo isso provém da mentira continua a si mesmo e aos outros. Aquele que mente a si mesmo pode ser o primeiro a ofender-se. É, por vezes, bastante agradável ofender a si mesmo, não é verdade? Um indivíduo sabe que ninguém o ofendeu, mas ele mesmo, mas que ele mesmo forjou uma ofensa e mente para embelezar, enegrecendo de propósito o quadro, que se ligou a uma palavra e fez dum montículo uma montanha — e ele próprio sabe, portanto é o primeiro a ofender-se, até o prazer, até experimentar uma grande satisfação, e por isso mesmo chega ao verdadeiro ódio.
— Fiódor Dostoiévski, in Os Irmãos Karamazov (discurso do Stáriets) - pág 527. Ed. Nova Aguilar.
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