Como posso acreditar / disse o fulano
que o mundo ficou sem utopias
como posso acreditar
que a esperança é um esquecimento
ou que o prazer é uma tristeza
como posso acreditar / disse o fulano
que o universo é uma ruína
mesmo não sendo
ou que a morte é o silêncio
mesmo não sendo
como posso acreditar
que o horizonte é a fronteira
que o mar é ninguém
que a noite é nada
como posso acreditar / disse o fulano
que teu corpo / sicrana
não é algo mais do que apalpo
ou que teu amor
esse remoto amor que me destinas
não é a nudez dos teus olhos
a avareza das tuas mãos
como posso acreditar / sicrana austral
que és somente o que vejo
acaricio ou penetro
como posso acreditar / disse o fulano
que a utopia já não existe
se tu / sicrana doce
ousada / eterna
se tu / és minha utopia.
Mário Benedetti (1920-2009), poeta uruguaio, In: Antologia de Poemas de Amor.
domingo, 1 de setembro de 2019
Utopias
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário