segunda-feira, 2 de junho de 2014

Deus e eu

Deus não me dá sossego.
É meu aguilhão.
Morde meu calcanhar como serpente, 
faz-se verbo, carne, caco de vidro,
pedra contra a qual sangra minha cabeça.
Eu não tenho descanso neste amor.
Eu não posso dormir sob a luz do seu olho que me fixa.
Quero de novo o ventre de minha mãe, sua mão espalmada contra o umbigo estufado,
me escondendo de Deus.

Adélia Prado

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