quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A Alegoria da Caverna de Platão: Os meios de comunicação e a distorção da realidade



Na Alegoria da caverna de Platão, os homens estavam presos à uma condição que os impedia de verem a realidade, pois somente conseguiam enxergar as sombras projetadas à sua frente. Ou seja, na perspectiva platônica eles só tinham acesso ao mundo sensível, vivendo na penumbra. Poderíamos afirmar que atualmente vivemos uma condição análoga aquela apontada por Platão? Qual seria o papel dos meios de comunicação neste contexto?

A caverna representava um mundo fechado, permeado por sombras que definiam o que era a realidade. Os meios de comunicação atualmente fazem esse papel de mostrar o que é importante para ser pensado, para ser discutido, para ser visto como verdadeiro. Antes do aparecimento da sociedade de comunicação de massas, a religião fazia esse papel de definidora da realidade, apontando para as pessoas toda a compreensão  de mundo aceitável naquela época. Os que se opunham eram categorizados de hereges, perseguidos e, em alguns casos, mortos.

Ao longo do século XIX e principalmente no XX os meios de comunicação tomaram o lugar que até então era predominante da religião. Na verdade a religião continua tendo uma importância enorme para a maioria das pessoas, mas não é mais o grande  veículo disseminador de padrões de comportamento.  O cinema, a televisão e as redes sociais como o Facebook e Twitter filtram a realidade, criando um consenso social sobre o mundo. Esse consenso é introjetado pelo senso comum e  acaba fazendo as pessoas terem ideias muito parecidas e irrefletidas em relação à política, às questões sociais e morais.

Desde bem cedo, ainda na infância, somos bombardeados por propagandas, informações, padrões de condutas e pensamentos "aceitáveis", objetivos de vida a alcançarmos, etc. Isso nos leva a adequar a um projeto de vida dentro do sistema econômico e social que vivemos, que valoriza o consumo e a busca de destaque. E esse "se dá bem na vida" diz respeito ao mundo sensível, a desejos que não correspondem ao Belo, ao Bem e à Verdade. Tudo isso nos impede de ter uma experiência de vida de fato significativa, já que buscamos o tempo todo corresponder a esse simulacro existencial, onde o mais valorizado é o "parecer" e não o "ser". Mais importante do que as experiências reais é a espetacularização de nossas ações, por isso buscamos as "curtidas" no Facebook e Instagram. Somente o reconhecimento nas redes sociais parecem dar valor à vida irreal que levamos.

A crença nas verdades geradas pelos meios de comunicação é tão grande que o pensamento contrário não é aceito. Na Alegoria da Caverna o homem que consegue escapar e ver a luz e as cores da realidade, ao tentar voltar e mostrar o que viu aos aprisionados, não foi aceito e tentaram matá-lo. Hoje isso se repete a quem se propõe à construção de uma compreensão reflexiva sobre a vida. Aqueles que buscam acessar o mundo inteligível são considerados destruidores da moral e dos bons costumes, perturbadores da ordem. Não devem ser ouvidos.


Platão afirmava que o encontro com o conhecimento verdadeiro, que se encontra no mundo inteligível, se daria através da dialética, passos que daríamos através da reflexão, da racionalização e da abstração nesse mundo sensível. A luz do conhecimento nos tiraria desse simulacro e nos levaria à essência das coisas. Esse continua sendo o grande desafio para o filósofo: Fazer o contraponto aos meios de comunicação e gerar reflexão que nos tire do senso comum e das ilusões em que vivemos.




A Alegoria da Caverna e o cinema:

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