Na Alegoria da caverna de Platão, os homens estavam presos à uma condição que os impedia de verem a realidade, pois somente conseguiam enxergar as sombras projetadas à sua frente. Ou seja, na perspectiva platônica eles só tinham acesso ao mundo sensível, vivendo na penumbra. Poderíamos afirmar que atualmente vivemos uma condição análoga aquela apontada por Platão? Qual seria o papel dos meios de comunicação neste contexto?
A caverna representava um mundo
fechado, permeado por sombras que definiam o que era a realidade. Os meios de
comunicação atualmente fazem esse papel de mostrar o que é importante para ser
pensado, para ser discutido, para ser visto como verdadeiro. Antes do
aparecimento da sociedade de comunicação de massas, a religião fazia esse papel
de definidora da realidade, apontando para as pessoas toda a compreensão de mundo aceitável naquela época. Os que se
opunham eram categorizados de hereges, perseguidos e, em alguns casos, mortos.
Ao longo do século XIX e
principalmente no XX os meios de comunicação tomaram o lugar que até então era
predominante da religião. Na verdade a religião continua tendo uma importância
enorme para a maioria das pessoas, mas não é mais o grande veículo disseminador de padrões de
comportamento. O cinema, a televisão e
as redes sociais como o Facebook e Twitter filtram a realidade, criando um
consenso social sobre o mundo. Esse consenso é introjetado pelo senso comum
e acaba fazendo as pessoas terem ideias
muito parecidas e irrefletidas em relação à política, às questões sociais e
morais.
Desde bem cedo, ainda na infância,
somos bombardeados por propagandas, informações, padrões de condutas e
pensamentos "aceitáveis", objetivos de vida a alcançarmos, etc. Isso
nos leva a adequar a um projeto de vida dentro do sistema econômico e social
que vivemos, que valoriza o consumo e a busca de destaque. E esse "se dá
bem na vida" diz respeito ao mundo sensível, a desejos que não
correspondem ao Belo, ao Bem e à Verdade. Tudo isso nos impede de ter uma
experiência de vida de fato significativa, já que buscamos o tempo todo
corresponder a esse simulacro existencial, onde o mais valorizado é o
"parecer" e não o "ser". Mais importante do que as
experiências reais é a espetacularização de nossas ações, por isso buscamos as
"curtidas" no Facebook e Instagram. Somente o reconhecimento nas
redes sociais parecem dar valor à vida irreal que levamos.
A crença nas verdades geradas pelos
meios de comunicação é tão grande que o pensamento contrário não é aceito. Na
Alegoria da Caverna o homem que consegue escapar e ver a luz e as cores da
realidade, ao tentar voltar e mostrar o que viu aos aprisionados, não foi
aceito e tentaram matá-lo. Hoje isso se repete a quem se propõe à construção de
uma compreensão reflexiva sobre a vida. Aqueles que buscam acessar o mundo
inteligível são considerados destruidores da moral e dos bons costumes,
perturbadores da ordem. Não devem ser ouvidos.
Platão afirmava que o encontro com o
conhecimento verdadeiro, que se encontra no mundo inteligível, se daria através
da dialética, passos que daríamos através da reflexão, da racionalização e da
abstração nesse mundo sensível. A luz do conhecimento nos tiraria desse
simulacro e nos levaria à essência das coisas. Esse continua sendo o grande
desafio para o filósofo: Fazer o contraponto aos meios de comunicação e gerar
reflexão que nos tire do senso comum e das ilusões em que vivemos.
A Alegoria da Caverna e o cinema:
A Alegoria da Caverna e o cinema:
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