Três paixões,
simples mas avassaladoras, me dominaram a vida: o desejo de amor, a busca do
saber e a insuportável piedade pelo sofrimento humano. Três paixões, como
vendavais, me lançaram aqui e ali, em rumo desordenado, sobre as profundezas de
um mar de angústia beirando o desespero.
Busquei o amor,
primeiro, por trazer consigo o êxtase – êxtase tão imenso que, muitas vezes,
teria de bom grado sacrificado todo o resto de meus dias por algumas horas de
felicidade. Busquei-o depois para alívio da solidão – a terrível solidão na
qual uma trêmula consciência vê, dos confins do mundo, o frio, imponderável e
inerme abismo. Busquei-o, enfim, porque, na união do amor vislumbrei, em
mística miniatura, um esboçar da visão do paraíso imaginada por santos e
poetas. Foi o que busquei e, embora talvez pareça bom demais para um ser
humano, foi – finalmente – o que encontrei.
Com idêntica
paixão, busquei o saber. Quis entender os corações dos homens. Quis saber por
que brilham as estrelas. E tentei captar o significado da potência pitagórica
na qual o número sobrepuja o fluxo. Disso, um pouco, mas não muito, consegui.
Amor e saber, no que me foi possível, elevaram-me aos céus. Mas, sempre,
tristeza e pena traziam-me de volta à terra. Ecos dos gritos de dor reverberam
em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas pelo opressor, velhos
indefesos – carga odiada pelos filhos – e todo um mundo de solidão, pobreza e
dor, caricatura do que deveria ser a vida humana. Desejo aliviar o mal mas não
consigo, e também eu sofro. Foi essa minha vida.
Prólogo da Autobiografia de Bertrand Russell (1892/1970
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