No meio da calçada um vulto
escuro no escuro.
A mocinha no meio do caminho
trêmula de pavor, gritos em desejos
sufocam-lhe a garganta.
Mãos assassinas apertam-lhe a glote.
SOCORRO, grita calada.
O vulto escuro no escuro
se aproxima. Arma em riste.
Abruptamente cola
o seu corpo ao da mocinha.
A arma em riste continua.
Um pedaço de pau,
em desconexos giros,
movimenta no espaço.
No meio do corpo da mocinha
um vulto escuro no escuro,
como se buscasse aconchego,
pede desculpas pelo encontrão
e implora quase em sussurro
uma ajuda para atravessar a rua.
Um homem cego
entre um copo e outro
se distanciou de seus amigos
e de sua bengala.
Conceição Evaristo. Poemas da recordação e outros movimentos.
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