Uma lenda africana sobre origem.
Entre o Orun (o mundo espiritual) e o Aiyê (mundo material) existia um espelho, e tudo o que aparecia no Orun materializava-se no Aiyê. Ou seja, o mundo espiritual refletia exatamente o mundo material e não havia a menor dúvida de que cada acontecimento constituía uma verdade absoluta. Portanto, todo cuidado era pouco para
não quebrar o espelho da verdade, que ficava justamente entre os dois mundos.
Mas vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura. A jovem trabalhava dia e noite ajudando sua mãe a pilar inhames.
Um dia, desavisadamente, ao perder o controle do movimento ritmado da mão do pilão, bateu forte no espelho, que se espatifou, lançando seus cacos pelo mundo.
Assustada, Mahura foi se desculpar com Olorum. Qual não foi a sua surpresa quando o encontrou tranquilamente
deitado à sombra do Iroko, uma árvore considerada sagrada para os africanos. Olorum ouviu as desculpas da jovem
atentamente e, em seguida, declarou que daquele dia em diante não existiria mais uma única verdade. “Quem achar
um pedacinho do espelho estará encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho reproduz apenas a imagem do lugar em que se encontra."
Contado por Vanda Machado, citado por Lázaro Ramos no "Na minha pele".
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