MARGARIDA
Crês em Deus?
FAUSTO
Quem se atreve, amada prenda,
a dizer: Creio em Deus? Se o perguntares
a qualquer padre, a qualquer sábio, afirmo-te
que há-de a resposta parecer-te escárnio.
MARGARIDA
Então não crês?
FAUSTO
Encanto meu querido,
não tomes o que digo em mau sentido.
Defini-lo, que língua o tentara?
Quem se atreve a dizer: Em Deus creio?
Ou quem pode, sentindo-o no seio,
Não há Deus, temerário afirmar?
Pois aquele que abrange, que ampara
todo um mundo em seu grémio patente,
a nós ambos não pode igualmente
e a si próprio abranger, amparar?
Não nos cobre uma abóbada imensa?
Não pisamos um chão tão seguro?
Não nos banha em clarões pelo escuro
de astros meigos perene caudal?
Quando embebo este olhar, que em ti pensa,
nesse teu, que à minha alma responde,
¿de um poder que entreluz e se esconde
não sentimos o influxo fatal?
Toda a vez que o teu peito sedento
se afundir neste mar de doçura,
põe-lhe o nome a teu gosto: ventura,
céu de amor, ou potência de um Deus.
Eu nenhum. De o gozar me contento.
Nome é fumo em que a luz se reveste;
e eu não quero um tal fogo celeste
encobrir aos teus olhos e aos meus
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